Atendimento online

Durante a pandemia por Covid19 o mundo inteiro passou por inúmeras mudanças e a psicanálise precisou se posicionar para continuar fazendo o que se propõe a fazer: escutar o sofrimento humano.

Nesse contexto, tive a oportunidade de participar ativamente de projetos e debates que buscavam soluções para atender o crescente número de pessoas em busca de um espaço para lidar com suas angústias e sofrimentos psíquicos. As pessoas ansiavam por um lugar onde pudessem ser ouvidas, expressar suas emoções e encontrar ferramentas para dar sentido e forma à angústia que sentiam.

Importantes projetos foram desenvolvidos e muitos continuaram no período pós-pandêmico.

Em meu artigo “O que Belchior e Emicida têm a ver com o rolê? Crônica de um atendimento a um migrante durante a pandemia”,  publicado em 2021 na revista Travessia Revista do Migrante (versão em espanhol que pode ser acessada em
Clique aqui , narro a experiência de um atendimento psicanalítico realizado por telefone e chamada de voz por WhatsApp.

Essa é apenas uma parte da história…

E por quê?

Porque não é de hoje que o atendimento psicanalítico à distância, ou seja, realizado fora do setting tradicional presencial, seja face a face ou no divã, existe.

Já em 2007, o psicanalista americano Bruce Fink dedicou um capítulo inteiro ao tema em seu livro “Fundamentos da Técnica Psicanalítica”, explorando as possibilidades e desafios do atendimento por telefone.

Um exemplo notável é o caso do psicanalista italiano Contardo Calligaris, radicado no Brasil, que costumava realizar “análise de férias”. Ao viajar, buscava um profissional na região para manter sua análise. Essa experiência ele compartilha em seu livro “Cartas a um Jovem Terapeuta”.

O psicanalista Fábio Landa, após sua mudança do Brasil, deu continuidade ao atendimento de seus analisantes por meio de sessões telefônicas. Essa experiência me foi relatada em um seminário.

O tripé fundamental da teoria psicanalítica se baseia em três pilares: 1) análise pessoal do analista (daquela ou daquele que ocupa o lugar de analista); 2) estudo da teoria psicanalítica; e 3) supervisão clínica. Com base em minha experiência, acrescentaria um quarto elemento: 4) a escuta atenta de histórias, que também configura uma forma de transmissão do fazer psicanalítico.

Aqui não é espaço, e também não é minha intenção, polemizar este tema, pois muitos se empenharão em simplesmente dizer o contrário. Mas acredito num diálogo crítico e o que compartilho são minhas próprias experiências e também leituras e estudos já que o assunto, como disse, não é novo.

Partindo do princípio de que a análise se constitui a partir da fala e da escuta, o atendimento online se configura como mais um ambiente possível para o desenvolvimento do trabalho psicanalítico.